O que falar de um show como o do
Red Hot Chili Peppers, segunda à noite, no Gigantinho... Bom, vou tentar colocar em palavras algumas das emoções sentidas durante a apresentação.
Esse clima de grandes shows internacionais é realmente muito gostoso. Afinal, assistir a um show do
Red Hot Chili Peppers do lado de casa (do lado de casa é modo de dizer, é claro) não é todo o dia que acontece. Os dois shows mais importantes que já assisti foram bem longe: U2, em São Paulo, durante a Pop Mart Tour e a antológica-maravilhosa-salve-salve apresentação do R.E.M no último Rock In Rio, lá no Rio de Janeiro. Foi como dois sonhos realizados... Mas ainda tinha aquela frustração de nunca ter assistido um mega espetáculo em Porto Alegre.
Passaram por aqui recentemente Morrissey, Eric Clapton e Roger Waters. Mas pra falar a verdade, o ex-cantor dos Smiths e o ex-baixista do Pink Floyd fazem shows, basicamente, pra ter o que comer, já que o auge de sua fama já passou faz tempo. Embora importantes, pode-se dizer que não estão no auge do sucesso internacional. Faltava alguma coisa, uma grande banda... e o momento chegou.
Sei que não acreditei muito quando anunciaram os Chili Peppers por aqui. Afinal, tanta gente ficou de dar uma esticadinha aqui pros pampas, mas tudo acabou ficando por isso mesmo. Quando os ingressos começaram a ser vendidos... bom, aí já temos uma certeza.
Infelizmente, parece que a capital gaúcha, a mais rock'n'roll do país parece ainda não ter estrutura pra shows deste quilate (entre 10 a 15 mil pessoas). O local escolhido, o Chiqueirinho... opa, digo... Gigantinho, não tem as mínimas condições de receber um espetáculo internacional como o do Red Hot Chili Peppers. Logo aos primeiros acordes de
By The Way, música que abriu o show, fiquei morrendo de vergonha pelo papelão que os gaúchos pagaram diante da banda e seu staff. Um som horrível, reverberando ao máximo em nossos pobres ouvidos, microfonia e a voz Antony Kiedis um pouco distorcida. Parecia o vocalista cantar num megafone, como um líder sindical, e não o
band leader de uma das mais importantes bandas pop (senão a mais importante) da atualidade.
A técnica conseguiu resolver o problema da microfonia, apesar de ninguém da platéia conseguir distiguir os instrumentos na embolada e confusa acústica do ginásio do Internacional. É óbvio que a culpa não é do Inter e sim dos organizadores que não fizeram o show no Olímpico ou no Beira-Rio, ou ainda no Jockey Club, que recebeu o Metallica (outro grande show que eu não citei) e o Kiss, em 1999.
A escolha do Gigantinho só não foi tão ruim por causa das excelente localização que eu consegui nas arquibancadas, com vista privilegiada do palco e sem ter que me misturar a uma turba de adolescentes suados no palco. Acredito sinceramente, que fiquei numa das mais privilegiadas posições do ginásio, não tão em frente ao palco, mas não tão longe quanto nas cadeiras e vista privilegiada dos quatro pimentinhas (e não só de Antony Kieds, pra quem tava bem em frente na pista ou de John Frusciante pra quem havia entrado pelo portão da frente). No mais, o Ginásio da Beira Rio foi um desastre total para os apreciadores da boa música.
Já o show...
A festa começou com a
Comunidade Nin-Jitsu no show de abertura. Chega a ser triste ver uma geração de adolescentes (descobri finalmente que eu ODEIO ADOLESCENTES) idolatrando uma banda tão ruim. Mesmo assim, há de se ressaltar a competência dos quatro em cima do palco, que não deixaram a peteca cair e mostram bastante carisma. Mas só isso, não faz um grande grupo. Melodias repetidas e previsíveis, letras pobres que só falam de droga... Um retrato fiel das ambições juvenis nos dias de hoje. Ser malandrão, ir pra festa, fumar maconha e arrumar uma transa. Nada de mal até aí, mas é triste que seja só isso.
Tudo bem... já dei o meu discurso de pseudo intelectual preocupado. Já posso falar do show.
Começou às nove e meia da noite, com a estouradassa
By The Way, que era cantada desde cedo, nas filas da entrada. Seguiu-se então uma enxurrada de hits,
Scar Tissue,
Around The World e
Universally Speaking (esta última, do disco novo). Momento curioso foi quando Flea foi falar com a platéia. Ninguém entendia nada. Ele começou a conversar com Kiedis e só se entendeu mais ou menos assim:
Flea -
"Well, I think Lula will be the next president of Brazil."
A galera foi ao delírio. Tinha muita gente com adesivos e bandeiras do PT no ginásio. Mas os eleitores de Serra e Rigotto presentes não devem ter ficado muito contentes. E então mandaram a ver no primeiro hit pré-Californication da noite:
Suck My Kiss. Conforme eu já havia previsto antes, desconhecida de pelo menos 80% da platéia. Uma pena, já que a música tem uma energia incrível ao vivo. O mesmo aconteceu com
If You Have To Ask (minha preferida dos Chili Peppers, surpresa total no set list). Outra grata surpresa no repertório foi a dilacerante
I Could Have Lied, que assim como as outras, são do disco BloodSugarSexMagik. Linda de doer, só faltou o público cantar junto.
Apesar de ser conhecida como a banda de Antony Kiedis e Flea, quem brilhou mesmo na apresentação porto-alegrense dos Chili Peppers foi o guitarrista John Frusciante. Esbanjou técnica, dançou muito, solou pra caramba (sem ser chato ou repetitivo), chegou perto do público, cantou o refrão de
Under The Bridge e o melhor... introduziu
Californication com um pedacinho da clássica
Tiny Dancer, do Elton John, mundialmente consagrada no filme Quase Famosos. De chorar. Frusciante mostrou estar em ótima forma, depois de passar por vários problemas com drogas que o afastaram do grupo entre 93-99.
Antony Kiedis saiu com fama de antipático, embora não seja nada disso. Dançou pra caralho, foi de um lado pra outro, cantou muito, e ficou um tempão rebolando, pro delírio da ala feminina e também da ala masculina mais esquisitona. Sobre a simpatia do cara, tem que se levar em conta que ele sempre foi arrediu a esse grande assédio. Ele curte mesmo é ficar rezando em templos budistas e talz. Tá numa excelente forma física e com uma disposição incrível pra um senhor de 40 anos de idade.
Flea deu seu show habitual, com seu baixo maravilha e conversando com o público, seja em português ou num inglês quase que impossível de acompanhar. Chad Smith foi o mais discreto, mas brilhou em seus solos de bateria e ao entrar no bis com a camisa da seleção brasileira. Mas, quem esteve com o Red Hot Chili Peppers, garante que ele é o mais boa gente de todos.
Outro momento curioso foi quando Flea chamou o grito do píblico:
olê, olê, olê olá, brazil, brazil... e foi respondido com
um olê, Grêmio, olê, Grêmio.... Sem entender que se tratava do clube de futebol da cidade, o baixista ficou sem entender nada e peguntou se o público realmente gostava do país.
Enquanto isso, dá-lhe hits e músicas novas como
Can't Stop,
The Zephir Song,
Parallel Universe,
Otherside. A primeira parte terminou com a clássica
Give It Away, ou melhor, "gibruei gibruei nau", como todo mundo cantava. O bis ficou por conta do mega sucesso
Under The Bridge e de
Me and My Frinends, que encerrou o show com uma verdadeira catarse de Flea e Frusciante em cima do palco. Enfim, um show inesquecível, uma noite monumental e um puta show de profissionalismo da banda, que mesmo com um som horrível, um palco pobre de efeitos (que devem ter ficado guardado em casa pros shows americanos e europeus), foi lá e deu conta do recado, em uma hora e cinquenta de muito rock'n'roll, suor e energia.