Foca (in the Sky with Diamonds)

sábado, outubro 12, 2002

ENTRANDO NO MARAVILHOSO MUNDO DA TROPICÁLIA

(Este post ficou muito longo. Escrevi especialmente pra quem me perguntou sobre o show ou tem curiosidade em saber como eu me porto em shows. Eu achei este post bem legal e interessante e realmente gostaria que vocês lessem. Só escrevi isso pra vocês saberem que eu entendo se tiverem preguiça de ler e forem embora)

Show de Caetano Veloso e Jorge Mautner em Porto Alegre. A priemeria coisa que me vem a cabeça é, puxa, como eu tinha vontade de ir num show do Caê. Ainda mais com o Jorge Mautner. O último show do baiano em Porto Alegre tinha sido com a pomposa turnê do disco Noites do Norte, no teatro do SESI. Infelizmente, não sou um homem de teatro. Não que eu não goste. É a falta de poder aquisitivo mesmo. Os ingressos estavam na média de 80 reais, mesmo preço do show do Chico Buarque As Cidades, no mesmo local.

Mas vou ser sincero com vocês. Caso eu tivesse grana, pagaria na boa os oitenta pilas pra assistir o Chico ou o Caetano. Tenho obessão por shows, sou da opinião que performances ao vivo são sagradas para ídolos e fãs de música pop como eu (prometo outro post sobre os shows da minha vida). E PORRA, tô pagando 70 pra ver os Red Hot Chili Peppers.

O negócio é que shows em Teatro me deixam constrangidos. Repito: não sou um homem de teatro. Gosto de agitação, ia sempre ao estádio de arquibancada, que como diz o grito de guerra, "é pra sentir mais emoção".

Mas durante a entrevista no Jô, a dupla revelou que a apresentação ia ser no Araújo Vianna, local conhecido em Porto Alegre pela sua péssima acústica e por abrigar shows nacionais e internacionais a um preço mais acessível. Já fui muito lá pra ver shows, inclusive dois antológicos, daqueles que a gente nunca esquece: Mano Chao (em 2000) e Jorge Ben (há um mês).

Comprei ingresso por 30 pilas, preço promocional para os primeiros tiquetes vendidos.

Chegando no Araújo Vianna, um público bem diferente ao local, tradicionalmente, um reduto de hippies, punks, vagabundos, bêbados, drogados e focas que ficam de bobeira na Avenida Oswaldo Aranha, distribuídos entre alguns dos bares mais famosos da boemia gaúcha - Lola, Bar João e a Lancheria do Parque.

Ao contrário, público típico de teatro - e como já disse, não sou um homem de teatros -, mulheres de vestido, publicitários, casais de 30, 40 anos, casal de namorados yuppies, típicos fãs fiéis de Caetano e tão diferentes de mim. Também tinha figuras ilustres da cena pop gaúcha, cujo nome prefiro não citar. Todos lá, Araújo Vianna lotado. Pensei que iria encontrar as mesmas pessoas do show do Jorge Ben, outra figura ilustre da MPB, mas ledo engano. Peguei um lugar rasoavelmente bom (ah, esqueci de dizer que o Araújo tem cadeiras no formato stadium, onde em qualquer posição pode-se ter uma ótima visão do palco), mas ficava atrás dos rapazes da técnica. Logo, sentou-se ao meu lado várias pessoas bem diferente da minha pessoa, de modo que eu já sabia que ao começar o show, iria me dirigir ao corredor pra assistir o show de pé e bem na frente (como já tinha feito em outros shows lá, como Ben Jor, O Rappa, Pato Fu). Logo, um rapaz coloca uma câmera bem enfrente ao meu lugar e avisa que só vai ficar uns minutinhos ali filmando as primerias músicas. Pronto. Era o fim. Mais um motivo pra eu procurar lugar nos corredores.

Mais um engano.

Ao chegar ao corredor, já lotado, todo mundo estava sentadinho. Uma moça (bem bonita, por sinal) falou que se a gente levantasse, atrapalhava quem estava sentado... Puxa... que troço mais sem graça... será que ninguém vai agitar???

Caetano entra sozinho no palco, pega um violão e toca uma música solito. Uma do Noel Rosa, segundo o jornal (aquele mesmo que escreveu que Alegria, Alegria, se chamava Sem Lenço Sem Documento). Momento tri bossa nova. Eis que então entra o senhor Jorge Mautner e sua banda ao palco pra executar a deliciosa Todo Errado, cujo clipe tá passando a cada meia hora na programação da MTV.

Abre parênteses - Pra quem não sabe, Jorge Mautner é um agitador cultural, cuja carreira começou uma década antes do tropicalismo. Ele escreveu alguns livros e compôs várias músicas, sendo a mais famosa, Maracatú Atômico, já gravada pelo Gil e que ficou muito famosa na versão do Chico Science. Caetano considera Mautner como o grande visionário da tropicália. Ambos se conheceram em Londres, no exílio - Fecha parênteses.

O grande lance do show foram as performances de palco. Os dois usando roupas bem simples (Caetano fazia shows de terno e gravata), ficavam dançando, rebolando e correndo pelo palco durante todo o show. Ambos se ajoelhavam um para o outro no meio dos solos e um sempre se afastava quando o outro cantava uma música, num silêncio impávido e respeitoso. Por falar em solos, que banda maravilhosa, inclusive um guitarrista fazendo uns solos animais, super psicodélicos. Entre os hits, London London, O Estrangeiro, Vampiro (linda música de Mautner gravada pelo Caetano nos anos 70) e a maravilhosa Alegria, Alegria, cantada pelo Caetano (ao contrário do que disse a Zero Hora), que há muito tempo não tocava essa em shows. Linda!

Um momento curioso foi quando a dupla tocou Sampa. Uma mulher atrás de mim começou a cantar essa música muito alta e com uma voz horrível, super estridente... Chamei de mal gosto, mal gosto, mal gosto...

Das músicas do disco gravado pelos dois, Eu Não Pesso Desculpa, rolou entre outras O Namorado (versão pro hit do Carlinhos Brown, A Namorada), Homem Bomba (super bacana), Feitiço, Tarado (letra muito linda), Urge Dracon, Cajuína, Hino do Carnaval Brasileiro e uma das que mais causou risos na platéia, Voa Voa Perereca, com Caetano sozinho no violão. A música mais inesperada foi Oh! Carol, clássico do roque enrou dos anos 50, com Caentano e Mautner imitando borboletas no tchuru-ru-ru-ru... Hilário, hilário, hilário. Depois, Caê teve que explicar que a música foi tocada por causa da influência do roque na tropicália e tal e emendou com dois samba-canções, cujo nome não me lembro, só sei que uma era da Maysa. Teve até uma Marisa Monte no meio, com De Noite Na Cama.

Enfim, foi um show maravilhoso, daqueles que a gente sai sorrindo de orelha a orelha. Daqueles que fica na memória pra sempre. Quem perdeu, perdeu, porque Caetano tá indo pros Estates fazer show solo e depois fica parado até o Carnaval baiano. Mas o disco da dupla tá a venda e eu recomendo muito. Garanto que é melhor do que qualquer banda inglesa da moda.

O show teve mais ou menos uma hora e quarenta de duração, terminou com o repeteco de Todo Errado e Hino do Carnaval Brasileiro. Saí do Araújo com a certeza de que um dia vou ser um homem de teatro e vou pagar até mais de 80 reais pra ter uma outra noite maravilhosa como esta.