Alguns trechos da entrevista de Fernando Meireles, diretor de Cidade de Deus, à revista Época:

ÉPOCA - Por que Cidade de Deus não foi indicado ao Oscar?

Fernando Meirelles - A narrativa muito rápida e crianças com armas devem ter desagradado aos membros da Academia. Se a gente assiste a esse filme desligado de uma realidade, parece mesmo ter sido feito por um diretor meio doente. Muitos americanos não percebem que há um planeta ao redor de seu país com realidades distintas. Para eles, tudo é fantasia.

ÉPOCA - Os americanos repudiam a violência estrangeira, mas legitimam a do cinema deles?

Meirelles - Faz sentido. CDD foi sempre apontado como muito violento, no entanto Gangues de Nova York é aceito. Sei também que
90% desses caras que acharam CDD violento apóiam o ataque americano ao Iraque. A violência deles é sempre justificada. Já a dos outros é de bárbaros.

ÉPOCA - Existe diferença entre arte e indústria no cinema?

Meirelles - O cinema sempre é um produto de uma indústria, mas pode ser uma obra de arte ao mesmo tempo. CDD é um produto, sem dúvida. Se é uma obra de arte, não sou eu quem dirá. Arte e produto não se excluem.