Foca (in the Sky with Diamonds)

sábado, março 02, 2002

ESPAÇO LIVRE

Reau é pouco; reais bastante.

Coloquei a mão no bolso. Três reau. Que coisa... Tomo
em canha, ou levo pra casa e entrego pra mulher? Ela
certamente vai chiar e me chamar de inútil pra baixo.
Gilda reclama mas entende... São três da tarde e não
consegui nada, nem um seuviço, nem mesmo pra entregar
papel de propaganda de cartomante na Rua da Praia. Sento
e me encosto numa porta. Ela de repente se abre, como se
fosse um sinal. Não acredito muito nestas coisas, mas na
merda em que estou, e sem nada melhor pra fazer, entrei
no prédio só pra ver no que dava. Caminhei por um
corredor estreito que saiu numa sala bem grande, bonita
mesmo...Dentro de uma cabine, tinha uma moça boa e tetuda
que perguntou o que eu desejava. Eu quase que respondi
que eu queria comer ela toda, mas tive vergonha, não
sei... Mas perguntei ansim:

- Aqui é o quê?

A moça me respondeu mostrando os dente:

- Marcas e patentes. O senhor gostaria de fazer um
registro ?

Eu respondi que sim, mesmo porque, aquela não era mulher
de se negar nada. Ela me mandou entrar numa fila e eu
fui. Fiquei la, parado, até ser atendido numa outra
cabine, dessa vez por um cara gordo e bigodudo que
parecia o gaúcho da propaganda do Coscarque:

- Pois não? -Ele perguntou.

- Pois é... - Eu respondi

Vi que ele não estava de bom humor quando me perguntou de
novo:

- O senhor veio aqui para fazer um registro de patente?

Falei que sim, eu não era um torneiro hidráulico tão bom
quanto o meu primo Felipe, mas dava pra enganar:

- E o senhor quer registrar o que?

Eu perguntei:

- Como assim?

Vi que ele me respondeu só pra sacanear:

- Registrar, oras... O senhor conforme artigo 5º,
parágrafo XXIX da Constituição Federal, têm direito à
propriedade de marcas nomes, inventos industriais e
signos distintivos.

Não sei o quê me deu nessa hora, mas foi como se eu fosse
um doutô, desses dos bem graúdo e sabido, eu respondi pro
gordo:

- Ah...Quero registra o A.

O gordo tirou o sorrisinho da cara e perguntou :

- Registrar o quê?

Respondi de novo que queria registrar o A. Ele chamou
então o patrão dele, e explicou no pé do ouvido do homem
que eu queria registrar a letra A. Discutiram... Mexeram
nums papel... Fizeram umas ligação... E finalmente o
gordo veio bem sério falar comigo:

- Para efetuar o registro da letra A o senhor deve pagar
uma taxa de R$ 2,60.

Paguei, recebi quarenta centavo de troco e ganhei um
papel cheio de carimbo e assinatura que me dava - como
ali dizia " Direito a propriedade de marca da letra A".
Enrolei o papel, enfiei debaixo do braço e sai. Na porta
a moça tetuda me desejou bom dia e eu já cobrei:

- Me deve R$ 1,00 pelo A!

Naquela noite cheguei com três mil REAIS em casa. E Gilda
não reclama mais...